Nos passos de Clara de Assis



Nos passos de Clara de Assis
E de repente o mundo voltou a sorrir. Há oitocentos anos, Deus suscitou no coração medieval, o trovador da jovialidade, Francisco de Assis e sua plantinha Clara. A liturgia da Igreja nos convida a cantarmos o “clarão que surge do rosto da dama pobre” e serva do Altíssimo.

Lendo e meditando a vida de Santa Clara, sinto dificuldades para descrever a grandeza dessa mulher. Apenas posso parafrasear o que disse o papa João Paulo II: “O mundo tem saudades de Clara de Assis”.

No transcorrer dos dias, Clara sente o amor do Amado que perscruta o seu coração. Num gesto louco de profunda entrega e doação, ela sela definitivamente seu casamento com o Amado da sua alma. Quanta magia aquela noite esconde em sua memória. A bela dama de Assis, que deixa o conforto de sua casa, é acolhida por frei Francisco e seus irmãos numa consagração entre o céu e a terra.

Essa união entre masculino e feminino, animus e anima, dá a toda humanidade vida e amor. A lua dança ao brilho do sol. Essa dança cósmica leva-nos hoje a assumirmos um compromisso com nossa mãe terra, a Pachamama indígena, tão ameaçada pelos “pobres filhos de Eva” que tudo querem ter.

Tão jovem e já disposta a viver inteiramente na intimidade com seu Deus pobre e humilde, que se fez um esmoler para implorar nosso amor. A pequenina igreja de São Damião é testemunha de uma vida vivida na obediência do santo Evangelho.

Quando Clara escolhe a vida de pobreza absoluta, os homens de ontem e de hoje assistem a morte do lucro que diminui o ser humano. Entre as cores cinza e escuras do dinheiro, a Amada do Amado escolhe colorir sua vida com o Bem, o Sumo Bem que não passa – o verdadeiro “tesouro que a ferrugem não consome nem a traça rói, muito menos os ladrões o saqueiam”.

No silêncio do seu convento ela descobre que o mundo é “um nada longe do amor de Deus”. O “silêncio e a solidão são meios indispensáveis para concentrar-nos no essencial, para viver na presença do Senhor”. É a partir dessa perspectiva que a clausura adquire a sua verdadeira dimensão e nós então podemos entender a alma missionária que teve nossa nobre senhora. Na intimidade de sua cela, Clara se encontra com a humanidade que chora e grita “sem eira nem beira”. Faz a perfeita união entre a contemplação e ação se fazendo solidária com “a paixão de Cristo na paixão do mundo”.

Hoje precisamos resgatar em nós, homens modernos, o espírito contemplativo, a doçura e a leveza de alma que possuía Clara de Assis. Queremos nas “lasqueiras de nossas vidas” encontrarmos com o Peregrino de Nazaré, homem que transforma o nosso interior e escreve a mais linda carta de amor em nós e por nós.

Há barulhos demais e silêncio de menos rondando o nosso mundo. Precisamos deixar “nosso coração transbordar de amor por Cristo e pela sua humanidade”, assim atualizaremos a alegria daqueles jovens, que deixando tudo o que possuíam, encontraram não só o jardim belo e perfumado, mas o próprio Jardineiro ressuscitado, que é nossa garantia de um mundo novo.

Essas linhas são apenas para recordar, no escuro desse dia, a chama que agita e crepita em nós. Nas subidas e descidas da vida possamos seguir Jesus nos passos de Clara de Assis.
Leandro Longo, Postulante Capuchinho do estado de São Paulo.

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