Ele ressuscitou! Deus e essa "mania" de amar...

     Estamos nos despedindo da Semana Santa, dias em que nos deparamos com algumas das cenas mais marcantes da vida de Jesus Cristo. Sofrimento, humilhações, sangue, dor, morte... e vida! 

     Podemos nos perguntar o porquê de tudo isso. Qual o sentido tem um Deus que é Todo-Poderoso, que pode construir e destruir todas as coisas, passar por tanto sofrimento, pela morte de cruz e pelas humilhações que passou? Que Deus é esse? É sobre isso que te convido a refletir neste pequeno texto! Vamos lá? 

Por que Deus nos criou? 

     Se consultarmos o YOUCAT, o Catecismo Jovem, já na questão número dois temos que “Deus criou-nos por livre e desinteressado amor” (YOUCAT, 2). Quando alguém ama muito, tem vontade extravasar esse amor com outras pessoas. Podemos tentar entender Deus desse ponto de vista: Ele criou o ser humano, cada um de nós que agora lemos este texto, com a única intenção de manifestar Seu amor que não tem barreiras, não tem limites, não olha cor, gênero, aparência física ou capacidades. O amor de Deus é livre, independe de qualquer condição, não precisa de retorno. Nisto o Seu amor é muito diferente do nosso amor humano, que é limitado. 
     É fato que nunca vamos conseguir amar as pessoas do mesmo modo como Deus ama a cada um de nós. Somos muito humanos para isso! Deus é muito maior que nossa capacidade e Seu amor supera nossa compreensão. Isso tem que estar claro para podermos passar ao segundo ponto de nossa conversa: o sofrimento!

Por que Deus aceitou o sofrimento?

     Olhando com nossos limitados olhos humanos para toda a cena que se passa na Sexta-feira Santa, podemos pensar que Deus afinal seja um amante da dor e do sofrimento. Que Deus é esse, que Pai é esse que entrega Seu próprio Filho para passar por tanta dor como Jesus passou? Não conseguimos entender aos olhos humanos. É preciso, portanto, ir além. E nós o faremos.
     Dizemos que Deus nos ama de um jeito que nós não podemos entender, não é? Pois é, esse amor de Deus por cada um de nós O levou a se doar inteiramente por nós na cruz. Só pensando no Seu amor podemos compreender o porquê da entrega de Jesus Cristo. O Pai e o Filho, sendo um só Deus, aceitam o sofrimento não porque gostassem de sofrer e quisessem a dor (isso seria uma espécie de masoquismo) mas por “livre e desinteressado amor” por nós. Em outras palavras, é tão forte o amor de Deus, que ele aceita ir até as últimas consequências por conta desse amor.

Depois da dor vem a alegria. 

     Depois daquele dia, de dor e sofrimento, de vazio e escuridão, Deus continuou a preparar Seu plano de amor para nós. No terceiro dia, quando as pessoas que amavam Jesus foram visitá-lo no sepulcro, tiveram uma grande surpresa: onde ele está? Jesus não estava mais ali, morto. As pessoas ficaram espantadas, apavoradas, por um momento até perderam as esperanças. Quem sabe aquelas promessas todas do reino de Deus, reino de amor e justiça, que Jesus tanto tinha anunciado, afinal eram só mais algumas promessas que não se realizariam, tudo estava acabado e eles estavam novamente abandonados. 
     Mas não foi assim. Deus nunca mente para nós. Nunca nos abandonou e nem vai nos abandonar. Deus não esquece das suas promessas! Não deixem que digam que não há esperança, porque há! Querem ver como há?
     De repente, em meio a lágrimas e desespero (o vazio e a falta de alguém amado causa desespero), Jesus começa a aparecer aos discípulos. Aparece a um depois a outros e outras. Enfim, Deus ressuscitou Jesus dos mortos! A vida teve a última palavra! Os discípulos não entendiam muito fácil tudo isso. Bem, era difícil de entender mesmo. Mas pouco a pouco Jesus vai começar a tocar a vida e o coração daquelas pessoas e fazê-las perceber que Deus pode silenciar em alguns momentos da nossa vida, mas jamais nos deixará. Vou contar um fato muito bonito que aconteceu nesses dias.
     Dizem que estavam caminhando numa estrada deserta a caminho de um lugar chamado Emaús, dois dos seguidores de Jesus. Estavam tristes e abatidos, porque ainda Jesus não tinha aparecido a eles depois de ressuscitar. De repente um homem se aproxima e começa a caminhar com eles. Mas eles precisaram de uma longa viagem para conseguir compreender que aquele homem que caminhava com eles era o próprio Jesus. Imaginem só a alegria que devem ter sentido quando reconheceram Jesus ao partir do pão, durante a refeição! Alegria que vem de Deus sempre completa mais! 

Também quero te amar! 

     Às vezes fico pensando em tudo isso que Jesus passou e depois nos relatos da ressurreição e seu aparecimento aos discípulos, e me pergunto: hoje, o que quer dizer Jesus para mim com esse acontecimento? 

Em meio a tanta propagação do prazer a todo custo, especialmente para nós jovens; do egoísmo, do individualismo, da busca por ser grande e importante, de ser honrado por todos, de ser invejado... O que Jesus tem a me dizer? E não consigo pensar em outra coisa senão que ele me diria sempre e nunca se cansaria de dizer: 
"Eu também quero te amar”!

      Sim, porque é a grande mensagem de Deus para nós: seu amor sem limites, seu amor por mim, que nasci depois de dois mil anos da sua Paixão, Morte e Ressurreição. É também por mim que Ele se entregou! No momento de seu sofrimento, também pensou em cada um de nós que agora lemos este texto. E você, que talvez está um pouco longe de Deus, tenha certeza disto: “Ele pensou também em ti e te ama com um amor que não pede merecimento”. Aproxime-se, pois, Daquele que te ama e se entregou por ti! 
O YOUCAT fala-nos sobre “o que é o amor?” Ele diz que o amor “é a força com que nos entregamos a Deus, que nos amou primeiro, para nos unirmos a Ele e assim acolhermos os outros como a nós mesmos, por amor a Deus, sem reservas e com o coração” (YOUCAT, 309). 
     Por sermos tão amados por Deus, queremos também nós extravasar este amor. É o momento de amarmos uns aos outros! É o momento de renovarmos nossa tarefa como cristãos: amar! É a única coisa que Deus nos pede com insistência: que amemos as pessoas, porque o amor é a atitude de Deus. “Deus é amor e quem ama permanece em Deus” (1 Jo 4, 16). 

 Daqui para frente e eternamente... Deus nunca vai deixar de nos amar!

Esta certeza deve sempre nos mover. 

Temos um Deus apaixonado por nós, enlouquecido de amor por nós! 

Jamais deixemos que nos digam o contrário! 

Sua dor e sofrimento só tem sentido e explicação se vistos com os olhos da fé. 

E a lente que nos permite enxergar é o amor!

     Que sigamos com fé e amor esse Deus que nos quer bem! Que a Semana Santa nos reanime na caminhada ao lado de Jesus Cristo, como seus seguidores e seguidoras, comprometidos com Sua Palavra e seus ensinamentos! Amém!

Frei Renan Espíndola, OFMCap.

Pelotas, RS.