A Divina Criança mora entre nós

Com o salmista, nós cristãos, dentro de poucos dias iremos cantar: “Hoje o mundo é de novo criado”. Natal é a festa da luz, da Divina Criança, que resolveu entrar no nosso mundo pela porta do fundo, na escuridão de uma noite, ao lado do burro e do boi, na pobreza de um estábulo, pois “não havia lugar para eles nos hotéis da cidade”.

Mistério! Afinal já canta o poeta: “todas as coisas são mistério”. Deus se faz criança, seu chorinho é doce, seu toque é suave, sua mãe precisa amamentá-lo e enfaixar seus bracinhos frágeis, ele não nasceu para condenar. Pensar em tudo isso é simplesmente consolador. Serei julgado por uma criança que não conhece a malícia dos adultos, quer apenas brincar e brincar com todos: pobres, ricos, loiros, negros, índios, sem terra. Mistério de um Deus que nas melhores palavras que podemos dizer é Amor.

Como não lembrar-me do meu tempo de criança. Ainda cedo troquei o papai Noel – símbolo do consumismo pagão – pelas carícias do Menino Jesus. Aprendi com minha mãe o significado de montar o presépio, sem dinheiro, recortava as figuras da família santa que achava e apressadamente fazia uma prece, claro lembrando sempre o meu pai do presente que queria ganhar naquela noite santa. Coisas de criança...

Hoje sei que o presépio que devo montar é o do meu coração, ele sim deve estar quente para acolher Jesus, afinal já nos adverte o evangelista com tristeza: “Veio para os seus e os seus não o acolheram”, essa advertência serve também para as Igrejas que no meio da nebulosidade dos incensos, nas pompas litúrgicas acabam esquecendo-se da pobreza do presépio... Bem, disso falo outra hora. Agora quero descrever um sonho espiritual que vivi por esses dias.

Eu caminhava atentamente pelas margens do Córrego dos Macacos, agora tendo uma parte revitalizada, pensava no que dizia meu Seráfico pai São Francisco, que na noite de Natal todos deveriam comer e beber porque “não pode haver tristeza no mundo quando nasce a Vida”.

Por ali, via jovens, crianças, idosos nos aparelhos de ginástica, quando de repente achei jogado no chão um pedaço de papel amassado, parecia ser um bilhete, resolvi pegá-lo, sentei-me no chão e comecei a ler, dizia o seguinte:

“Quando você olhar o presépio e perceber no menino deitado o Deus que se faz homem na pobreza, longe dos tronos e palácios, então será Natal;

Quando os políticos, municipal, federal e estadual, banirem de seus governos a corrupção extinguindo a mala escusa de dinheiro roubado do povo, então será Natal;

Quando as famílias ensinarem aos seus filhos o carinho, a bondade e a ternura da pequena Criança, então será Natal;

Quando os pais se amarem e perdoarem, dançando ao som da fidelidade e do amor mútuo, então será Natal;

Quando não mais existir favelas, moradores de rua, crianças abandonadas amargando a solidão e a tristeza, quando todos tiverem casa, terra e trabalho, então será Natal;

Quando o próximo “que desce o caminho” for respeitado indiferentemente de sua crença, raça, opção sexual, política ou ideológica; então será Natal;

Quando padres e pastores derem as mãos, celebrando o Deus pai-mãe que ama a todos os seus filhos, trocando suas bíblias em seus cultos e missas, então será Natal;

Quando os magos, os cientistas, os mestres conseguirem ver na Criança o sentido do Universo, então será Natal;

Quando o mundo for irradiado pela luz da estrela de Belém, recriado no diálogo, na paz e na esperança, irmanado no sonho utópico do Reino do Menino, então será Natal”.

Mogi Guaçu, 25 de Dezembro de 2010

ASSINADO: MENINO JESUS

Voltei do sonho que ainda hoje me persegue, faço silêncio no meu coração. Uma profunda alegria me invade, não é a “alegria dos bobos-alegres que são alegres sem saber por quê. Eu tenho motivos para sorrir. O Natal chegou e aquele que foi “esperado no sono e na vigília, ansiado e aguardado” nasceu, Deus Criança agora mora conosco, na nossa casa. Vamos sentar à mesa e cantar a melodia do amor que não conhece mais o ocaso.

Não digo mais nada. Nem consigo escrever. Apenas peço à Divina Criança que me conte suas histórias, e que me dê os seus sonhos, para que eu possa brincar nos balanços da vida. Amém. Axé. Awire. Aleluia.

Leandro Roberto Longo Postulante Capuchinho – Piracicaba S.P.

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