Salve, salve, galera franciscana!
Estamos chegando até vocês novamente através deste singelo texto,
que nos motiva a continuar no “esquenta” preparatório para acolher o Sínodo
dos Bispos no ano que vem com a temática “Jovens, fé e discernimento
vocacional”. Dessa vez, vamos conferir o que o Documento Preparatório nos
diz sobre a relação vocação-missão e sobre a dimensão do acompanhamento
vocacional. Vamos nessa?
Percursos de vocação e missão
Neste ponto do documento, os bispos dizem que o discernimento vocacional
é um processo longo e progressivo em que a pessoa vai descobrindo qual o
desejo de Deus a respeito da sua vida. Embora existam momentos ou
encontros decisivos, a vocação não se completa com um único ato, dirão os
bispos.
Dos diversos exemplos de vocação que podemos tirar da narrativa Bíblica, o
documento faz referência a dois em particular. O primeiro é o chamado de
Abraão e Sara, que são convidados por Deus a partirem para uma terra que
Ele mesmo iria mostrar. Vejam, existe um encontro decisivo de Deus com
Abraão e Sara, porém, eles só terão clareza da vontade de Deus – a “terra
que Eu te mostrarei” – depois de um longo caminho, muitas vezes marcado
pelos obstáculos.
O segundo exemplo é a vocação de Maria, em que também identificamos um
encontro decisivo e pessoal, assim como uma resposta igualmente pessoal e
única – “eis aqui a serva do Senhor” –, resposta esta que precisou de muita
reflexão e que, como a própria história nos conta, gerou algumas
inquietações em Maria. É por meio de um processo que Maria vai entendendo
o que Deus planejou para ela. O que não compreendia, guardava no seu
coração.
Os bispos dizem algo muito genial: “O tempo é fundamental para verificar a
orientação efetiva da decisão tomada”. Para pensar em vocação, precisamos
de uma boa dose de paciência e confiança em Deus, que quer o melhor para
cada um de nós, mas que respeita nossa liberdade de escolha, como já
falamos em outros textos ao longo de nosso estudo do DPS.
Não existe vocação sem missão, uma vez que, se Deus chama, é para uma
missão específica. Em todas as passagens bíblicas que narram a vocação dos
personagens (Samuel, Isaías, Jeremias, Abraão e Sara, Moisés, etc.), há
sempre a designação para uma tarefa, para um serviço, para uma missão.
Esse chamado é acolhido com entusiasmo ou com temor.
Como o próprio Jesus nos ensina, aceitar a vocação implica a disponibilidade
de arriscar a própria vida e percorrer o caminho da cruz. Os bispos
destacam que “só se a pessoa renunciar a ocupar o centro da cena com as
suas próprias necessidades é que se abrirá o espaço para receber o projeto
de Deus sobre a vida familiar, o ministério ordenado ou a vida consagrada,
assim como para desempenhar com rigor a própria profissão e buscar
sinceramente o bem comum”. Em outras palavras, precisamos deixar Deus
agir na nossa vida. Deixar nosso coração aberto para acolher os sinais de
Deus, que fala pelas pessoas, pelos acontecimentos – felizes e infelizes –, e
principalmente no silêncio da oração sincera.
O acompanhamento
Os bispos dizem que na base do discernimento vocacional podemos
encontrar três convicções, relidas à luz da fé e da tradição bíblica. A
primeira convicção é a de que o Espírito de Deus age na vida do ser humano,
de cada um de nós – moças e rapazes – e nós, ouvindo com atenção essa voz
de Deus, podemos interpretar os seus sinais. A segunda convicção é a de que
o nosso coração apresenta-se normalmente dividido porque é atraído por
apelos que divergem ou até se opõem entre si (todos nós já tivemos alguma
experiência de estar divididos em relação às nossas escolhas pessoais).
A terceira convicção é a de que embora nosso coração apresente-se
dividido, dadas as diversas possibilidades de “rotas” na estrada da nossa
vida, não temos escapatória: precisamos decidir. Afinal na vida real, não
existe uma voz como a do GPS, que diz “recalculando rotas... vire à direita!”.
Cada um é responsável por construir seu caminho, fazendo uma leitura
daqueles sinais de Deus, do qual falamos acima.
No entanto, para reconhecer esses sinais de Deus, precisamos dos
instrumentos necessários, dizem os bispos. O primeiro instrumento para o
discernimento vocacional é o acompanhamento pessoal. Para acompanhar
alguém é preciso viver na própria pele a experiência de interpretar os
movimentos do coração e neles reconhecer a voz de Deus que fala na
singularidade de cada um.
O acompanhamento espiritual é um exercício de favorecer a relação entre a
pessoa e o Senhor e preparar o terreno para o encontro entre eles. Jesus
ensina, através de sua relação com as pessoas de seu tempo, como deve ser
o perfil de quem acompanha o jovem no discernimento vocacional: deve ser
próximo, dar testemunho de autenticidade, ter um olhar amoroso que acolha
o jovem, tomar a decisão de caminhar ao lado, etc.
A Igreja entende que sua tarefa no discernimento vocacional é colaborar
para a alegria do jovem, e não apoderar-se de sua fé. Em síntese, o
acompanhamento espiritual baseia-se na oração e no pedido do dom do
Espírito que guia e ilumina a todos e cada um.
Para fim de papo...
Galera bonita, esse nosso tema de hoje é daqueles que a gente fica com
desejo de saber mais e mais, não é mesmo? Para quem desejar, deixo
novamente o convite de procurar o Documento Preparatório para o Sínodo e
reler essa parte que fala do discernimento vocacional. E ainda deixo o
convite para ficarem ligados e ligadas em meu canal do YouTube, onde
estarei em breve gravando alguns vídeos com essa temática toda que
estamos refletindo juntos.
Desejo que o Senhor os abençoe e proteja, e por intercessão de São
Francisco e Santa Clara de Assis, todos possam responder ao chamado de
Deus com alegria e entusiasmo, ouvindo a sua voz que chama a cada um de
modo único e especial.
Abraço fraterno!
Paz e Bem!
Frei Renan Espíndola, OFMCap.
Pelotas, RS.
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