O desafio das Chagas de São Francisco


No dia 17 de setembro a Família Franciscana celebra, em todo o mundo, a festa da impressão das Chagas, também chamada de Estigmas de São Francisco de Assis. A introdução litúrgica da Missa e Liturgia das Horas diz o seguinte:
“O Seráfico Pai Francisco, desde o início de sua conversão, dedicou-se de uma maneira toda especial à devoção e veneração do Cristo crucificado, devoção que até a morte ele inculcava a todos por palavras e exemplo. Quando, em 1224, Francisco se abismava em profunda contemplação no Monte Alverne, por um admirável e estupendo prodígio, o Senhor Jesus imprimiu-lhe no corpo as chagas de sua paixão. O Papa Bento XI concedeu à Ordem dos Frades Menores que todos os anos, neste dia, celebrasse, no grau de festa, a memória de tão memorável prodígio, comprovado pelos mais fidedignos testemunhos.

UM SINAL

As Chagas de São Francisco são uma realidade que possui a sua densidade própria, e são sinal que significa uma realidade ainda mais densa. Possui seu sentido para São Francisco ele mesmo, e o possui para outros, para nós particularmente, que somos seguidores do santo de Assis. Homens que somos, só podemos atingir as realidades espirituais por intermédio de sinais sensíveis: pelos sinais da linguagem falada, ou pelos sinais-coisas que significam pelo que são, ou significam por sentidos adicionais resultantes de convenção e treino de interpretação. A força dum sinal depende do sinal ele mesmo, mas muito mais depende de quem o percebe e interpreta.

CRISE DOS SINAIS

A crise em que a Igreja se encontra no momento, e particularmente a crise da vida religiosa, também a franciscana, nasce em boa parte duma perda de força dos sinais sensíveis nesta dimensão interpretativa, infelizmente, os sinais assim debilitados em sua força de significação ou até inteiramente anulados tardam em ser recuperados, nem são substituídos tempestivamente por outros. Para nós homens, porém, vale que ou recuperamos os sinais que perderam a sua força, ou os substituímos por sinais novos, que possuam a força necessária sobre a nossa subjetividade de percepção e de realização, ou então a crise crescerá na sua intensidade destruidora.

AS CHAGAS AINDA SÃO SINAL INTENSO

As Chagas de Cristo e a sua realidade impressa nos membros de São Francisco, porém, continuam a possuir uma força imensa de significação, continuam sendo um sinal. Continuam sendo um sinal ao qual se contradiz para a ruína, ou que se integra na própria vida para a ressurreição (Lc 2,34). As Chagas de Cristo, abertas na Cruz e mantidas na ressurreição, possuem sua força significativa imensa e incontornável: ninguém pode conservar-se em neutralidade, sem resposta. As Chagas de São Francisco derivam das de Cristo a sua força significativa. No entanto, possuem também o seu elemento próprio: como fato que todo o arsenal crítico dos que não as querem aceitar não conseguiu eliminar da história dos homens, e como sinal de que a realidade das Chagas de Cristo continua viva na história a ponto de se exprimirem nesta forma forte e surpreendente. A força do sinal continua viva, importa que abramos nossa alma e abramos a alma dos outros para que esta força de significação transformante possa agir.

MUITA CRISE, MUITA DÚVIDA, POUCA FORÇA.

A crise em que nos encontramos já vem de longe, mas cobrou força enorme em nossos dias. Sua força nas almas provém dum questionamento generalizado. Um questionamento pode ser para a vida, se o seu desafio é assumido e levado até à resposta. Mas gera a morte, quando o desafio não é assumido e as questões levantadas ficam sem resposta: gera a morte através da dúvida, que passa a ser ceticismo e este transforma a vida num cemitério. O questionamento diante do qual nos vimos colocados foi e continua sendo ingente. Infelizmente é grande a medida em que não é assumido com responsabilidade e levado até gerar resposta. São muitos os que se comprazem em questionamento estéril. Assim, em muitas almas nasceu a dúvida, cresceu um sentimento generalizado de reserva, instalou-se não raro um ceticismo progressivo que produz a morte da vida cristã e da vida religiosa. O que importa é assumir responsavelmente o questionamento e caminhar até encontrar a resposta. O Alverne para isto pode ser uma lição fecunda.


SÃO FRANCISCO CHAGADO PROVOCA UMA REORIENTAÇÃO

Se com toda a seriedade nos confrontarmos com São Francisco chagado e não fugirmos do seu olhar perscrutador, estaremos já no caminho de assumir responsavelmente o questionamento da crise em que nos debatemos. Se assim nos confrontarmos com ele em medida suficiente, com coragem e decisão, provocará em nós uma reorientação para a vida, a inversão da marcha mortífera da dúvida e do ceticismo.

IMPORTA TAMBÉM A INTEGRAÇÃO DO “HOJE”

Para que este confronto produza em nós os seus efeitos salutares, porém, importa que nele assumamos e integremos a nossa realidade concreta, a situação em que nos encontramos. O passado com o que fez neste sentido nos pode ajudar validamente, no entanto não basta: importa integrar no confronto também a realidade de hoje. Aceitemos o desafio com seriedade, integridade, honestidade e coragem. Importa que façamos com decisão e coerência a nossa parte.

http://www.franciscanos.org.br/?page_id=21142

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário! A Juventude Franciscana alegre-se em receber sua mensagem! Gratidão! Paz e Bem.