No último domingo ouvimos, durante o Evangelho, a missão do verdadeiro cristão: “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, … ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei” (Mt 28, 19-20). As palavras exortam um Deus que amou tanto suas criaturas que se fez humano, como nós, para comunicar esse amor. Um amor que transcendeu a cruz para mostrar que quem n´Ele crê já não morre, mas tem a garantia da vida eterna e, mais que isso, a sua companhia eterna, pois assim termina dizendo: “Eis que eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo”.
E quem propaga essas palavras, quem apresenta esse amor misericordioso é, sem dúvida, o maior comunicador de todos os tempos: Jesus Cristo, o comunicador do Pai. E Ele não veio até nós apenas para falar, mas para fazer tudo o que Deus queria transmitir ao seu povo. Cristo é perdão, é reconciliação, é cura, é libertação, é atitude. Um amor que se transmite quando questiona os doutores da lei. Um amor que se comunica quando clama por Lázaro, já sem vida, ressuscitar dos mortos. Um amor que se comunica quando se faz igual à samaritana mostrando a verdadeira fonte de água viva. Um amor que se comunica ao partir o pão quando, em Emaús, os discípulos ainda se permitam se cegar pela morte, já vencida por Ele.
Sendo quem é, essa trajetória poderia ter sido diferente. No alto da cruz, com toda autoridade que lhe fora dada no céu e na terra, poderia dizimar aqueles que tentavam contra sua vida e divindade. Mas, com sua própria morte, comunicou a doação e o poder do amor, e não o poder que exala do ódio, da destruição e do mal.
Em tempos de redes sociais, onde o empoderamento de qualquer cidadão é falsamente expressado na palma de suas mãos, quando se lança de seus telefones modernos mensagens avassaladoras, falsas e desonestas, disseminando ódio e segregação, devemos lembrar o verdadeiro sentido da palavra comunicação. É do latim communicare, que significa partilhar e tornar comum, que ela nasce. A mesma origem da palavra comunhão, que nos lembra um Deus que quer se “autopartilhar” e assim estar no meio de nós.
Ao longo da história homens e mulheres, cada qual a seu modo, viveram essa honesta experiência de partilha. Muitos aceitando a própria cruz, mas muitos ainda lançando sementes em terras boas, abnegando o poder, o luxo e a fartura, para caminhar descalço entre os pobres. E descalçar não é apenas tirar as sandálias, mas é viver uma nova realidade.
Santa Rita de Cássia, mais do que aceitar sua dor e sofrimento, transformou o mundo ao seu redor com a força da oração. São Jorge foi um guerreiro da fé, e não desistiu, mesmo na iminência de sua morte, servindo de exemplo para a conversão de diversas pessoas. São Francisco de Assis despiu-se do luxo para reconstruir a Igreja de Cristo. Enquanto Cristóvão entendeu que o maior de todos os reis era Jesus Cristo.
Hoje somos Ritas, Jorges, Franciscos e Cristóvãos a entrar e sair das igrejas. Confessamos, ajoelhamos, comungamos, oramos. Mas, o que mais? A verdadeira Igreja deve seguir conosco além das paredes que nos une ao som dos sinos. Diante do altar alimentamos nossa fé, mas ela apenas se fortalece quando a professamos em nossos atos diários, comunicando com gestos de solidariedade e verdade o que ali nos foi servido.
Isso é comunicar. Isso é estender a comunhão do amor divino aos mais necessitados, aos que sofrem pelas dores de nosso tempo, aos que se perdem nos vícios e na ambição que também tentam comungar conosco suas ilusões.
Para comemorar o 51º Dia Mundial das Comunicações Sociais, recebemos, do Papa Francisco, as seguintes palavras: “Creio que há necessidade de romper o círculo vicioso da angústia e deter a espiral do medo, resultante do hábito de se fixar a atenção nas ‘notícias más’ (guerras, terrorismo, escândalos e todo o tipo de falimento nas vicissitudes humanas). Não se trata, naturalmente, de promover desinformação onde seja ignorado o drama do sofrimento, nem de cair num otimismo ingênuo que não se deixe tocar pelo escândalo do mal. Antes, pelo contrário, queria que todos procurássemos ultrapassar aquele sentimento de mau-humor e resignação que muitas vezes se apodera de nós, lançando-nos na apatia, gerando medos ou a impressão de não ser possível pôr limites ao mal. Aliás, num sistema comunicador onde vigora a lógica de que uma notícia boa não desperta a atenção, e por conseguinte não é uma notícia, e onde o drama do sofrimento e o mistério do mal facilmente são elevados a espetáculo, podemos ser tentados a anestesiar a consciência ou cair no desespero”.
E completa: “Gostaria, pois, de dar a minha contribuição para a busca dum estilo comunicador aberto e criativo, que não se prontifique a conceder papel de protagonista ao mal, mas procure evidenciar as possíveis soluções, inspirando uma abordagem propositiva e responsável nas pessoas a quem se comunica a notícia. A todos queria convidar a oferecer aos homens e mulheres do nosso tempo relatos permeados pela lógica da ‘boa notícia’.”
Por isso, a Igreja de hoje deve, sim, apontar e questionar a vida em sociedade em toda sua amplitude, seja na política, na educação, nos avanços da ciência e tudo o que contrapõe o projeto de Deus. O próprio Cristo fazia isso.
Rezemos pois, para que estejamos sempre ocupados dos olhos de Cristo, para enxergarmos essa missão, comunicando o bem e denunciando as inverdades. Que assim comuniquemos sua missão que é nossa missão. “Deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo, tornando-nos capazes de discernir em cada evento o que acontece entre Deus e a humanidade” (Papa Francisco). Comunicar Jesus, esta é a essência de ser cristão.
Rafael Faria, especial para http://www.franciscanos.org.br/?p=134535
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