Ao falar sobre a Pobreza Franciscana estamos falando da Pobreza de São Francisco de Assis, pois somente ele viveu radicalmente a Pobreza. Os seus seguidores em todas as Ordens a seguem como Conselho Evangélico e como provocação espiritual, mas não conseguem ser pobres como ele foi pobre. Sempre haverá um confronto entre a pobreza em espírito e a pobreza material. Francisco de Assis viveu as duas dimensões.
Há muitas cobranças sobre ser pobre em termos materiais, e se pensarmos conjunturalmente em termos de hoje seria: classe média falida, viver de salário mínimo, viver de subemprego, mendigar, cuidar das doenças no SUS por não ter Plano de Saúde, ter muitas dívidas, não poder acompanhar as necessidades impostas pela sociedade de consumo, andar de ônibus, jamais poder ir à Disney, viver sem casa, sem teto, sem nada... Francisco de Assis quis ser pobre para ser livre. Não ter nada para ter o Tudo. Há algo maior que preenche o coração. Amar e desejar o Espírito do Senhor. Ter na própria carne as Palavras do Evangelho. Aprender que ser pobre não é ter, mas ter repartindo.
Francisco de Assis não tornou-se pobre para fragilizar-se, mas para encontrar um vigor do espírito que está acima de qualquer medida sociológica ou mercadológica. Ser pobre é buscar a riqueza essencial. Isto não é moderno, é medieval. A questão toda é que este medieval era um pobre feliz que encontrou a medida de seu coração e não a medida da roupa pret-a-porter. A questão não é ter ou não ter riqueza, ser ou não ser pobre, a questão maior é ser livre diante de tudo isto. Francisco não era frustrado por sofrer privação, mas tornou-se um homem sereno e santo porque tinha um tesouro guardado em seu coração e não riqueza penhorada na Caixa Econômica. Pura loucura do contagiante Evangelho![1]
Francisco e os frades primitivos nos ensinaram que ser pobre é também, e sobretudo, colocar-se junto aos pobres, estar com eles e ver o mundo a partir dos olhos dos que nada possuem. Normalmente vemos ódio e revolta a partir das carências materiais, mas não assumimos os sonhos e anseios dos que querem sair de uma situação de miséria. Francisco e seus frades primitivos fizeram aquilo que a Igreja atual sempre clama em seus documentos: uma opção clara e preferencial pelos pobres, assumindo suas angústias e esperanças, suas opressões e aspirações, e que isto se torne o centro das práticas evangelizadoras. Viver o Evangelho é estar naturalmente ao lado dos que nada possuem.[2]
FREI VITÓRIO MAZZUCO
Reflexão do Blog
Olhai as aves: não semeiam nem colhem, não têm celeiro nem despensa. No entanto, Deus as sustenta. Será que vós não valeis mais do que as aves?...
Olhai como crescem os lirios do campo. Não trabalham nem fiam. No entanto, eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só dentre eles.
Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançado ao forno , quanto mais não fará conosco, gente de pouca fé. Também vós, não fiqueis ansiosos com o que comer ou beber... Vosso Pai sabe do que precisais. Buscai, pois o seu Reino, e essas coisas vos serão dadas por acréscimo. (Lc 12,24ss)
Pobreza não quer dizer miséria. Aquele que estende sua mão ao próximo com a avidez de possuir é menos pobre do que quem possui muito sem estar apegado aos seus bens. Existem pobres que prefeririam a morte a quem lhes tirasse o pouco que têm; há quem possua uma coisa só e seria capaz de matar a quem a tentasse tirar-lhe. Estes não são pobres, mesmo que o mundo assim os julgue por suas vestes. Não foi por causa deles que Jesus disse: " Bem-aventurados os pobres, porque deles é o Reino dos Céus" (Mt 5,3)
Pobres são aqueles para os quais é indiferente ter ou não ter, são todos aqueles que, sobre a face da terra, são felizes por aquilo que o Senhor lhes dá, convencidos de que é o bastante para oferecerem a Deus o louvor que ele lhes pede. Pobres são aqueles que repousam na vontade de Deus, a qual se manifesta momento a momento, e que se valem daquilo que possuem para cumpri-la bem, sem desviar-se nem perder-se em fantasia, sem contruir no vazio, mas vivendo num realismo do presente que usa tudo aquilo que Deus põe À sua disposição, instante a instante, para glorificá-lo segundo a segundo.[3]
Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me... E todo aquele que tiver deixado casa ou irmãos ou irmãs, ou pai ou mãe, ou filhos, ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna (Mt 19, 21-29)
Este é o maior fruto da pobreza: LIBERTAR A ALMA DE TUDO E TORNÁ-LA DISPONÍVEL À POSSE PLENA DE DEUS.
[3] Clara: A Primeira Plantinha de Francisco. Chiara Augusta Lainati. Editora Paulinas, 2015
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