Encerradas as eleições, o que vem por aí?


Estas linhas estão sendo escritas imediatamente após os resultados do segundo turno das eleições para o cargo (serviço) de prefeitos de municípios brasileiros. Ora, não é precisamente esta a missão do prefeito, ou seja, prestar serviço aos seus munícipes, sobretudo os mais abandonados? Nobre a missão do prefeito e do corpo dos vereadores.  Velar de verdade pelas pessoas colocadas sob sua jurisdição. Terminado pleito o que paira? Esperanças? Receios? Apreensões? Verificou-se um número assustador de abstenções, votos nulos e brancos.  A população se desinteressa da política, o que é grave e mesmo muito grave. Não é aqui o espaço para examinar a biografia de cada vencedor,  dissecar suas alianças claras e escuras e indícios de que não terão condições de fazer um governo que satisfaça. Verifica-se um enorme desencanto pela política.  E muitas alianças causam medo, não apenas receio. Os municípios estão quebrados.  Não há dinheiro.  O que pode vir por aí?

Esses senhores (umas poucas senhoras) que foram escolhidos para administrar os municípios estão perto de nós.  Conhecem nossos dramas.  Os filhos de nossa gente, sobretudo de nossa gente humilde, estudam em escolas municipais. Eles têm direito a uma educação decente, a professores felizes de serem mestres. Têm direito a ouvirem falar de lisura, honestidade, verdade, solidariedade.  Os prefeitos terão condições  de fazer com que nossas escolas municipais sejam  templos do saber da mente, da sabedoria de viver e nossos filhos serem despertados para buscarem o rosto do Altíssimo e não serem apenas consumistas, violentos, artífices de toda sorte da falcatrua? Nossos prefeitos farão isso? O que vem por aí?

Pensemos ainda nos serviços médicos municipais. Como é penoso passar umas horas em tantos hospitais municipais, estaduais e federais! Esses homens envelhecidos, descarnados, essas mulheres obesas, com os cabelos mal pintados, essas crianças berrando horas e horas na sala de espera, essa gente ofegante esperando atendimento… quanta precariedade! Os munícipios estão quebrados, enquanto isso vidas se extinguem… Quantos discursos no tempo da campanha… Por que esses  senhores “correm tão afoitamente ao pote”? Será que estão realmente com desejo de servir?  Nesta altura dos acontecimentos  já esqueceram as promessas que fizeram mesmo sabendo que não podiam cumpri-las. Os prefeitos se fazem próximos de nós? O que desejam eles de verdade?  Quanta barbaridade está sendo revelada em tantos inquéritos. Já sabíamos disto! Quanto desvio de verbas públicas, enquanto o Brasil vai perdendo sua credibilidade e sua gente definhando, morrendo na luta entre as gangues. Os filhos de nossas mulheres simples e bonitas de coração estão se perdendo… O que vem por aí?

O Papa Francisco anda ressuscitando o sopro do Concilio do  Vaticano II. Recolhemos aqui alguns pensamentos da Constituição Pastoral  “Gaudium et Spes”:

“Lembrem-se  portanto todos os cidadãos  ao mesmo tempo do direito e do dever de usar livremente seu voto  para promover o bem comum.  A Igreja considera digno de louvor e consideração  o trabalho daqueles que se dedicam ao bem da causa pública a serviço dos homens e assumem o trabalho deste cargo” (n.75).

“Com empenho se deve cuidar da educação civil e política, hoje muito necessária tanto para o povo como, sobretudo, para a juventude a fim de que todos os cidadãos possam desempenhar o seu papel na vida da comunidade política. Os que são idôneos ou possam tornar-se para exercer a difícil e, ao mesmo tempo, nobilíssima  arte política, preparem-se para ela e procurem exercê-la, esquecidos do proveito próprio e de vantagens materiais. Pela integridade, e com prudência, lutem  contra a injustiça e a opressão, ou o absolutismo e a intolerância, seja dum homem ou dum partido político;  dediquem-se ao bem de todos com sinceridade e retidão, bem mais, com o amor e a coragem exigidos pela vida política”  (n. 75).

“Condenam-se quaisquer formas políticas vigentes em algumas regiões, que impedem a liberdade civil e religiosa, multiplicam as vítimas   das paixões e crimes políticos e desviam o exercício da  autoridade, do bem comum para o proveito de algum partido  ou dos próprios governantes” (n. 73).

“Para construir a paz é antes de tudo imprescindível  extirpar as causas de desentendimento entre os homens. Estas alimentam a guerra, sobretudo, as injustiças. Não poucas vezes provêm de excessivas  desigualdades econômicas, bem como do atraso em lhes trazer remédios necessários. Outras surgem do espírito de domínio, do desprezo das pessoas e, investigando as causas mais profundas, da inveja, da desconfiança, da soberba e de outras paixões egoístas”  (n. 83).

Lembramos ainda uma orientação das Constituições da Ordem Franciscana Secular: “Os franciscanos seculares são chamados a oferecer uma contribuição própria inspirada na pessoa e na mensagem de Francisco de Assis, para uma civilização em que a dignidade da pessoa humana, a corresponsabilidade e o amor sejam realidades vivas”  ( art. 18).

Na visão franciscana ninguém exerce domínio e poder sobre ninguém. Os que são revestidos de autoridades são servos. Lavam os pés dos outros?

Encerradas as eleições, o que vem por aí?

Frei Almir
freialmir@gmail.com
Disponível em: http://www.franciscanos.org.br/?p=120770

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